Timidez – Personalidade ou doença?
A timidez é um jeito de ser, um traço de personalidade, caracterizado principalmente por um sentimento grande de vergonha em situações em que necessita se expor. Ela tem uma relação direta com a confiança que a pessoa tem em si mesma e uma preocupação exagerada com o julgamento dos outros. Não causa sofrimento acentuado e frequente na vida do tímido, mas pode gerar desconforto em algumas situações sociais, onde imagina correr o “risco” de ser julgado.
Para evitar esse suposto julgamento, o tímido acredita que ficando “invisível” pode ser a solução. O problema é quando o efeito acaba sendo o contrário. Quantas vezes um tímido escuta piadas a respeito da sua atitude, tal como : “o gato comeu sua língua” ou algo do tipo? Tentar ser invisível, além de impossível, acaba jogando holofotes em cima do tímido em algumas ocasiões. Tente imaginar a situação da pessoa tentando se esconder em uma festa e alguém o chama, em voz alta, no meio do salão?
Por que um tímido quer ser invisível? Bom, ninguém pode julgar ou fazer bullying com um ser invisível. Como ele imagina que qualquer julgamento será negativo, o entendimento das razões fica mais claro. Mesmo que não haja a exposição direta, a simples expectativa de estar exposto já gera desconforto, podendo inclusive ser maior do que a exposição propriamente dita. A nossa imaginação torna real a cena constrangedora e sofremos “como se” fosse verdade.
Ainda que não seja um característica exclusiva do tímido, este acaba tentando evitar situações em que possa ficar ansioso. Porém, ainda que esse afastamento, possa ser “calmante” no curto prazo, infelizmente acaba gerando pensamentos avaliativos negativos de si mesmo, não raro o tímido julgando-se incapaz, fraco e outros adjetivos que aumentam ainda mais seu sentimento de incompetência.
É comum o tímido não gosta de pensar e agir dessa forma. Inclusive, algumas vezes, tenta forçar-se a enfrentar o que tem medo, tentando usar frases de incentivo (?), como: “Qualquer pessoa normal não se sente assim” ou “ninguém se incomoda como eu, devo ser um ET”. Quando consegue se expor, geralmente com um nível elevado de ansiedade, o faz com imensa dificuldade. Mesmo que não necessariamente passe por constrangimento, o sofrimento causado pela ansiedade é tão intenso que é comum ele evitá-lo em situações futuras.
De certa forma, acaba se afastando das pessoas para evitar esse tipo de consequência. Passa a não aceitar mais convites, a não se expor em situações sociais (a não ser que seja obrigado). Ao longo do tempo, as pessoas podem parar de fazer novos convites e a explicação que normalmente o tímido dá a si mesmo é que as pessoas “cansaram” deles.
Felizmente para eles, isso não é necessariamente verdade. Ao tentar imaginar o motivo para a falta de convites, acaba por interpretar como uma forma de rejeição pela sua inadequação. Ele não imagina que essa é apenas UMA explicação, podendo inclusive deixar quem o faz chateado, já que o motivo pode ser positivo, tal como as pessoas podem querer poupá-lo, se preocupam em incomodá-lo, entre outras explicações possíveis. Mas a imaginação… cabe até perguntar quem é que está rejeitando quem…
EXISTE TRATAMENTO PARA TIMIDEZ?
Apesar da timidez não ser uma doença, ela pode ser trabalhada com a Terapia Cognitivo Comportamental de forma muito efetiva. O tratamento para a timidez parte da premissa que, desenvolvendo seu autoconhecimento e suas habilidades sociais, enfrentar as situações que geram ansiedade fica mais fácil. Ao desenvolver sua autoconfiança e sabendo como agir nas situações, seus comportamentos são muito mais adequados e, em consequência, valorizados pelas pessoas.
É importante diferenciar a timidez da fobia social, um Transtorno de Ansiedade muito mais grave, com consequências muito mais impactantes no dia-a-dia das pessoas com essa doença. Falarei sobre esse transtorno de ansiedade em outro momento, suas características e como tratá-lo.
De qualquer forma, as pessoas são muito menos exigentes e julgam muito menos do que nós esperamos. Quando o tímido dá uma chance às pessoas, ele descobre que sua auto-exigência o torna um juiz muito pior que a maioria das pessoas. Fica muito mais leve quando se percebe que as pessoas são muito mais receptivas do que ele imaginava. Fazendo uma brincadeira com a questão do julgamento, as pessoas com que nós nos relacionamos costumam ser ótimos advogados de defesa e nós, juízes e promotores.
ENTÃO O PROBLEMA SOU EU?
A resposta é NÃO! A verdade é que o problema NUNCA foi você. Mas como seus pensamentos, suas interpretações do que acontece, te levam a essa conclusão, já viu. Pra variar, o que vai te “salvar” é justamente o que você mais teme.
Pois é, parece brincadeira, mas quanto mais você se relaciona, mais respostas positivas você recebe dos outros, mesmo que você, de vez em quando, ainda “pague mico”. É comum as pessoas falarem algo do tipo “é o jeitão dele”. Comparado com a imaginação que geralmente o tímido faz, isso é bem pouco, não?
Claro que cada pessoa tem seu próprio caminho em direção à melhora e desenvolvimento de sua autoconfiança. Apesar disso, conviver bem com as pessoas é o caminho natural para que esse problema torne-se apenas história ao longo dos anos. Claro que envolve um certo esforço do tímido, mas vale a pena persistir.
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Imagine como você se sentiria se alguém que você ama conseguisse se tornar uma pessoa melhor por causa da sua ajuda?
Bom final de semana!! 🙂