Terapia Cognitivo Comportamental – sua mente a seu favor
Esse texto tem a intenção de falar um pouquinho sobre a minha visão de como deve ser ajudar as pessoas, as dificuldades, as possibilidades, dentro da minha linha de trabalho, que é a Terapia Cognitivo Comportamental.
Esse formato particular da minha técnica de trabalho advém da minha prática desenvolvida ao longo dos anos dentro do consultório. Fico feliz em dizer que a efetividade da mesma é muito alta, reforçando a ideia de que é possível ajudar as pessoas que estão sofrendo. E se tem algo que é importante nesse contexto é a relação terapêutica.
Eu normalmente gosto de colocar fotos que tenham relação com o que eu estou escrevendo nos meus textos. Não tenho muita dificuldade em achar fotos que representem o que está escrito. Mas nesse caso em especial, me bati um pouco.
Quando bati os olhos na foto acima não tive dúvida. Por que? Simples. Porque uma relação entre duas crianças é fácil de acontecer. Elas não tem tantas travas como os adultos. Elas confiam mais, se soltam mais, falam o que pensam, solicitam ajuda, enfim, não tem medo de mostrar a si mesmas.
E esse é o estereótipo de uma relação entre psicólogo e paciente que seria ideal. Seria muito bom se as pessoas conseguissem chegar nesse nível de entrega desde o começo. Mas eu entendo como isso é difícil.
O ponto de vista de quem está indo pro psicólogo precisa ser levado em consideração. Ele pensa: “Estou indo falar sobre mim, sobre minhas fraquezas, com uma pessoa desconhecida. Não sei se ele vai conseguir me ajudar e também não sei como ele vai tratar o que eu disser. Como se abrir sem ter medo? São dúvidas prováveis e até mesmo esperadas.
Mas, infelizmente, essa é apenas uma das preocupações que fazem com que as pessoas não procurem ajuda e sofram tanto. Existem muitas destas e não pretendo falar detalhadamente sobre as que eu já ouvi. Ao invés disso, irei tentar responder algumas questões que já me foram feitas a respeito.
VOCÊ VAI NO PSICÓLOGO, FALA, FALA E ELE NÃO FALA NADA
Essa é a queixa mais comum que eu já ouvi. A pessoa vai no psicólogo e fala, fala, fala durante praticamente toda a sessão. Raramente, quando muito o profissional fala alguma coisa, faz alguma pergunta. Essas pessoas ficam frustradas com essa forma de trabalhar.
Dentro da Psicologia existem muitas linhas psicológicas. Tantas que eu descubro algumas até hoje, 15 anos depois de formado. E cada uma delas tem uma forma de ver o mecanismo de ajuda e quais as técnicas e formatos de atendimento que adotam. E essa linha que “apenas” escuta, normalmente pelos relatos que escuto, é vista como o padrão ou, muitas vezes, como a única forma de trabalhar.
Isso não é verdade. Essa forma de trabalhar é de uma escola clássica e segue um formato específico. O que imagino que aconteça é que a mídia teve um papel determinante na forma como as pessoas vem o psicólogo. Afinal, quando aparece um psicólogo na televisão é desse jeito.
A Terapia Cognitivo Comportamental não trabalha assim. Ainda que seja importante escutar, a sessão é mais dinâmica e mais interativa. Desde o começo há troca de informações, intervenções, questionamentos sobre o que foi dito. Acredita que, desse jeito, a informação fica bem clara para o psicólogo e facilite na hora de planejar a melhor forma de ajudar para aquela pessoa específica.
Outras escolas também trabalham de forma mais interativa. Porém, a Terapia Cognitivo Comportamental entende que a relação terapêutica deva ser valorizada constantemente nas sessões, pra que a pessoa desde a primeira sessão possa ter um nível de alívio inicial de suas apreensões.
É comum eu escutar comentários do tipo: “nossa, se eu soubesse que era assim teria vindo antes”. Ou “seu jeito de trabalhar é muito diferente de todos os outros psicólogos que conheci”. Fico feliz com esse comentário, mas de forma comedida. Apenas o decorrer das sessões dirá se houve o desenvolvimento de uma relação de confiança, como nas crianças lá em cima. Mas sinaliza que algumas barreiras já começaram a cair.
VOU LÁ PRA ELE ME DIZER O QUE FAZER?
Essa é uma dúvida constante que as pessoas tem a respeito da forma de trabalho do psicólogo. Como tantas outras coisas incorretas que pensam a respeito da profissão, a ideia que o psicólogo irá dizer o caminho a ser seguido é mais um engano. E isso levanta várias discussões a respeito, já que o paciente muitas vezes vai no terapeuta pra que ele resolva o seu problema. Afinal, ele está pagando.
Por outro lado, muitas pessoas não procuram ajuda justamente porque esperam que esse seja o caminho trilhado pelo terapeuta. Não querem que alguém que não conhecem digam o que eles tem que fazer, muitas vezes esperando que, no caminho, sejam pontuados seus erros. Não, o psicólogo não vai apontar o erro também, até mesmo porque qualquer comportamento tem a sua razão de ser e deve fazer sentido pra quem decide fazê-lo.
Interessante como ideias tão discrepantes possam conviver dentro da nossa sociedade. O problema é que muitos psicólogos alimentam a ideia do mistério ao redor da profissão. Tenho convicção que isso mais atrapalha do que ajuda.
SEUS PENSAMENTOS SÃO A CAUSA DAS SUAS EMOÇÕES
A Terapia Cognitivo Comportamental trabalha com a ideia de que os comportamentos que as pessoas decidem ter, bem como o sofrimento psicológico que muitos sentem, advém da interpretação dos fatos e não do fato em si. Ou seja, se nós simplesmente orientássemos os pacientes a tomar alguma tipo de atitude diferente, direcionássemos o caminho, sem entender os motivos que levaram a pessoa a agir daquela forma, isso fatalmente ia dar errado.
É muito comum que as pessoas optem por mudar ou não algum tipo de atitude depois que conseguem entender suas motivações para fazer aquilo, não porque o psicólogo entendeu que era melhor. E quando acontece dessa maneira, as pessoas se sentem muito mais seguras, já que elas foram responsáveis pela melhora de suas vidas a partir das suas escolhas.
E, ao contrário de outra lenda que contam sobre o trabalho dos psicólogos, para a Terapia Cognitivo Comportamental não é necessário revirar os cantos da mente buscando o passado pra entender o que está acontecendo. O foco desse entendimento deve estar no presente, buscando referências no passado, mas entendendo que o motivo de algo ter começado no passado e o que está fazendo que continue a ser dessa maneira, no presente, podem não ter mais relação nenhuma.
VOU TER QUE BUSCAR NO PASSADO A SOLUÇÃO DO PROBLEMA?
A cara que essa moça da foto deve dar uma ideia de como os pacientes ficam quando tem que fazer isso. Também ouço muito as pessoas dizerem: “vou ter que falar tudo de novo?”. E a resposta pra essa pergunta é: NÃO! Mas, como assim?
A Terapia Cognitivo Comportamental trabalha com a interpretação que as pessoas fazem dos fatos e não com os fatos em si. Porém, acredita que exista um padrão de interpretações. Por isso, as pessoas acabam agindo do mesmo jeito diante de coisas e fatos que elas veem como “parecidas”. É um processo automático e nem sempre está acessível à consciência.
Claro que escutar a respeito do crescimento da pessoa, como foram suas relações de infância, com os pais, amigos, familiares, adolescência e aí por diante é importante. Mas são partes da análise, não a razão de ser do trabalho.
Até pra que fique mais fácil entender, é muito comum você pensar algo sempre do mesmo jeito diante de um estímulo igual ou parecido. Por exemplo, se você desenvolveu medo de cachorro no passado, quando ver um vai ter uma reação de ansiedade. E essa reação, segundo nosso entendimento, é consequência de um pensamento automático a respeito e que você nem percebe no seu dia a dia.
Mas enfim, vou ter que ficar analisando o que eu penso?
SE VOCÊ CUIDAR DA BOLA DE NEVE ELA NÃO VIRA AVALANCHE
Acho que não preciso analisar tudo, não é? Afinal, não dá pra, nessa correria do dia a dia, ficar tentando entender todas as nossas reações, certo?
NÃO, NÃO CRIATURA. ERRADO!!!
Quando você sofre por alguma coisa, quanto mais você evita pensar nela, mais você complica, como se fosse uma bola de neve. E eu vejo isso acontecer com uma frequência preocupante.
Se você, por algum motivo, desenvolveu algum tipo de defesa contra uma situação de estresse, tende a manter essa atitude de afastamento durante toda a sua vida. Pior, acha que justamente essa atitude é que te poupa de incômodos.
E isso é uma armadilha. Por exemplo, imagine que você está em um trabalho em que está sobrecarregado. Não bastasse isso, seus colegas vivem constantemente pedindo pra você ajudá-los. Ou pior, seu chefe cada vez te dá mais tarefas mesmo tendo gente de bobeira. Normal você pensar na injustiça disso. Mas você fala a respeito? Expressa o que está pensando e sentindo? Acho que não, não é mesmo?
Então peraí, você está chateado, não gosta de ficar sendo feito de escravo, mas não consegue dizer não… o que será que está acontecendo? Bingo. Você deve ter algum tipo de catástrofe pessoal que imagina que acontecerá se você se posicionar. E esse pensamento, essa interpretação vem tão rápido que você só age pra evitar a ansiedade decorrente dele. E claro que ESSA ansiedade diminui. Afinal, você evitou o risco.
Mas vamos pensar. Qual a chance de você, ao longo do tempo, ficar doente, abandonar esse emprego, explodir, surtar ou qualquer outra coisa do gênero com essa carga de estresse que você está sujeito?
Pois é. Eu poderia dizer, se fosse um psicólogo que apenas diz o que a pessoa deve fazer, que era SÓ você falar NÃO PRAS PESSOAS. Fácil, não?
SE FOSSE FÁCIL, VOCÊ NÃO TERIA FEITO?
Infelizmente não é fácil. Se fosse fácil você já tinha feito. A não ser que você esteja dizendo pra você mesmo que você é fraco, incompetente, covarde ou qualquer outro nome que usamos pra definir nossa incapacidade de solucionar esse problema que é tão SIMPLES… ;-(
A solução pra esse tipo de problema não está no entendimento do passado. Você saber que aprendeu no passado que dizer não pra alguém pode gerar perda de emprego faz qual diferença agora, no momento atual?
A questão agora é: como entender os motivos que fazem um comportamento destrutivo como esse se manter, mesmo que você “saiba” a solução? E, uma vez compreendido, como criar um plano de ação pra tomar atitudes diferentes, desafiando os pensamentos de desemprego, hostilidade das outras pessoas, etc?
Ou seja, a solução precisa ser construída com base em entendimento e atitudes, em conjunto, pra que seja tomada alguma medida no PRESENTE.
Imagine que você, tantos anos nessa situação, consegue limitar a carga de trabalho do chefe e dos amigos e não causa nenhuma consequência negativa, bem diferente do que você pensou? Como será que você vai se sentir?
A TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL TE MOSTRA QUE VOCÊ É MAIS CAPAZ DO QUE IMAGINA
Esse é o meu mantra. Uma vez que a pessoa consegue perceber que muitas das limitações que ela tem hoje são criadas por elas mesmas, a mudança é inevitável. Quando ela percebe que pauta sua vida por interpretações e, por isso, deixa de testar seus limites, começa a sentir necessidade de se conhecer. Quando, com a ajuda da Terapia Cognitivo Comportamental, você começa a fazer interpretações mais realistas e agindo em cima delas, começa a mudar seu mundo.
Isso não quer dizer que você consiga fazer isso sem medo, sem preocupações. Afinal, você tem uma vida inteira dizendo a si mesmo que “NÃO VOU DAR CONTA”. De repente vem esse cara que você não conhece bem e te mostra que talvez não seja bem assim. Além disso, te ajuda a criar condições de testar essas interpretações. Depois do teste, percebe que limitou à toa sua vida, e começa a testar cada vez mais e conseguir cada vez ir mais longe. Inevitavelmente sua autoestima e a autoconfiança começam a se desenvolver.
Veja, também existe a possibilidade de você ficar puto(a) da cara com você mesmo. Afinal, que merda, ficou tanto tempo se segurando, sofrendo sem necessidade. E eu falo a frase que os pacientes escutam quase toda sessão:
VOCÊ PRECISA TER PACIÊNCIA COM VOCÊ!
Óbvio que é difícil, mas também faz parte do tratamento entender que você só consegue agir dentro do que conhece. É injusto achar que DEVERIA ter feito algo em um momento que a ansiedade estava te dominando. Aprender a ser justo com você mesmo também é um objetivo secundário, mas muito importante, de qualquer trabalho terapêutico.
Poderia discutir muitos outros comentários, mas acredito que estes sejam suficientes para começar. E se você gostou desse texto, compartilhe, comente. Tinha algumas dessas concepções erradas sobre como era um atendimento psicológico? O que achou da metodologia da Terapia Cognitivo Comportamental? Fique à vontade para fazer qualquer comentário, crítica ou reflexão. Terei prazer em responder.