Ansiedade : o que é e porque precisamos dela
A ansiedade é uma reação do organismo a uma percepção de perigo real ou imaginado. Ou seja, mesmo que qualquer pessoa (até mesmo nós mesmos) negue, é uma reação de medo. Pois é, somos “medrosos” por natureza. E muito provavelmente por isso que estamos vivos. Vai lendo que vou explicar a visão cognitiva e comportamental da ansiedade e sua importância pra nossa sobrevivência, apesar do sofrimento que ela causa quando excessiva.
A ansiedade tem muitos nomes e descrições: nervosismo, dor nos “nervo”, uma “coisa na cabeça e no corpo”. De fato, é um fenômeno emocional que acomete tanto nossa mente quanto nosso corpo, muitas vezes de forma incontrolável. Ela é composta, basicamente, por 4 elementos:
- Sempre há um evento disparador da resposta de ansiedade, seja no mundo real ou no nosso pensamento;
- A interpretação desse evento sempre é vista como “perigosa” para nossa integridade física ou emocional;
- Temos uma reação fisiológica intensa: palpitações, aperto no peito, dor no estômago, falta de ar, desmaios, etc;
- Temos uma reação comportamental a essa sensação. O objetivo da nossa vida naquele momento é parar esse desconforto.
Apesar do óbvio sofrimento causado quando essas reações são intensas, estar ansioso, sentir ansiedade, não é sinal de doença, muito pelo contrário. Não senti-la pode ser sinal de problema, e grave.
QUAL A NECESSIDADE BIOLÓGICA DA ANSIEDADE
Para tentar explicar a necessidade biológica da ansiedade (se é que vc vai acreditar em mim), vou usar algumas histórias, baseadas na Teoria da Evolução de Darwin. As descobertas que esse cara fez são tão fantásticas que somos surpreendidos até hoje, passados tantos anos.
Vamos lá. Ao contrário do que se pensa, Darwin NUNCA falou em sobrevivência do mais forte. Até porque, se fosse assim, os dinossauros e outros animais muito mais fortes estariam vivos até hoje. O ponto principal é a capacidade de ADAPTAÇÃO aos ambientes. Exemplos clássicos que aprendemos nas salas de aula são o aumento do pescoço da girafa e as mariposas mais escuras na Inglaterra com a industrialização.
Mas o que isso tem a ver com ansiedade, Robson? Calma meu amigo “ansioso”. Já chego lá.
Supondo, então, que somos o produto da evolução, a ansiedade foi uma adaptação necessária para nossa sobrevivência. Sem ela, não estaríamos aqui, brabos, reclamando do quanto ela nos incomoda. Você não estaria lendo este texto e querendo me bater, ao mesmo tempo que eu preciso dar um jeito de sobreviver à sua violência. Dito de outra forma, se eu não ficar com medo da sua reação (ou probabilidade dela), posso me dar mal. E claro que eu preciso fazer algo a respeito, não?
Corro ou não corro risco ? Será que eu quero esperar você me achar para ver se corro risco ou já dou um jeito antes, aproveito e fujo já, pois “na dúvida, melhor não arriscar” ?
Pois é. Justamente essa análise que acontece quando estamos ansiosos. E, provavelmente, o que salvou nossos ancestrais de perigos reais no início. Vamos ver juntos?
QUANDO SER ANSIOSO SE MOSTROU MAIS IMPORTANTE PRA SOBREVIVÊNCIA
Os primeiros hominídeos conviviam com vários animais que eram seus alimentos e vice-versa. Vários sites falam a respeito dessa convivência, por exemplo O verso do inverso. Posso te garantir que não gostaria de encontrar nenhum desses bichos se eu estivesse no lugar dos meus ancestrais.
Eles precisavam caçar e coletar alimento pra sobreviver e, invariavelmente, poderiam encontrar com um cara desses aí da foto… Sem entrar entrar em detalhes históricos precisos, nós só começamos a domesticar animais a 12 mil anos atrás. Antes disso, cada um por si e vamos nos caçando uns aos outros. Era um bumba-meu-boi diário pela sobrevivência.
Pra se ter uma ideia do problema, se tiver curiosidade, há uma série bem legal do Discovery Channel chamada “Homem pré-histórico: vivendo entre as feras”. Você pode dar uma olhada no youtube.
Imagine, então, um grupo de caçadores, à noite, buscando algum animal pra janta da família e da tribo. Você é um desses caçadores e vocês estão andando e escutam, perto de vocês, um barulho qualquer. O que você faria? Marque a opção (ou opções) corretas pra vc:
- Dá nada, é só o vento e continua andando tranquilamente;
- Vou lá ver o que é;
- Reage, de forma a poder se defender com o grupo, ou fogem, buscando uma posição que possa ter certeza se é ou não um perigo
Quem respondeu as duas primeiras como corretas, ao longo do tempo, não deixou descendentes pra ler esse post. 😦
Resumindo, quem reagiu de forma a sobreviver, só o fez por causa da sua reação ao possível perigo, podendo optar por lutar ou fugir, dependendo da análise da realidade da situação. Você pode até falar: “tá bom, Robson, mas hoje ela não serve mais pra nada. Não temos mais predadores” !!!
De certa forma, você tem razão. Não temos mais “esse” tipo de predadores. mas temos assaltantes nas ruas, assassinos seriais, doenças transmissíveis, chefes e colegas traidores, pessoas tóxicas, entre tantos outros perigos dos tempos modernos. E cada um desses pode ou não representar um perigo real.
ENTÃO A ANSIEDADE PODE SER BOA
A ansiedade, assim como a dor, servem para nos proteger de perigos reais, gerando reações de acordo com as características deste. Ela é fruto da análise mental que fazemos sobre a nossa capacidade de lidar com esses perigos ou não. Ou seja, não é algo que não serve para nada. Mas, devido à nossa característica humana de ter uma capacidade imaginativa enorme, reagimos exatamente igual, física, mental e comportamentalmente, a perigos imaginários.
Sendo a reação ansiosa e a sua intensidade uma reação à análise do perigo, depende das seguintes interpretações, de maneira geral, para ocorrer:
- O problema é grande demais e não vou dar conta;
- O problema não é tão grande, mas eu sou muito pouco, não consigo lidar nem com isso;
- O problema é grande, mas eu consigo;
- Não é um problema, vamos resolver logo isso.
Sua reação é dependente do tipo de análise que faz. E por mais que sua análise possa parecer exata, as reações de ansiedade hoje, definidas como transtornos de ansiedade, acontecem quando criamos uma preocupação desproporcional ao problema. E reagimos à essa interpretação como se fosse verdade, ora lutando, ora fugindo, ora esquivando. E não distinguimos nem situações boas quando isso acontece.
Para exemplificar, pense em uma pessoa tímida, em um evento social, sendo colocada em evidência por algum feito que ela realizou. Ou ainda, pense em outra pessoa, que foi comunicada pelo chefe que passará a ser gerente de seus amigos, após ser promovida. Mais, pense em uma mãe que ficou sabendo que seu filho conseguiu um emprego melhor em uma cidade grande, distante dela. Supostamente todas essas situações são “boas”, mas será que essas pessoas conseguirão vê-las como tal?
COMO LIDAR DE UMA FORMA PRODUTIVA COM A ANSIEDADE
Não podemos e talvez nem queiramos, uma vez que a entendemos, viver sem ansiedade. Mas podemos torná-la nossa aliada. Hoje existem inúmeras formas de lidar com a ansiedade desproporcional, que gera doenças. Entre elas – e aqui me permitam puxar a farinha pro meu lado – A Terapia Cognitivo Comportamental.
Ela trabalha exatamente na análise das interpretações e ajudando as pessoas a desenvolver formas de descobrir se há realmente algo que seja perigoso e, caso realmente haja, aumentar a capacidade do paciente de enfrentar o problema. Além disso, ajuda a criar formas de evitá-lo que não sejam causadores de maior estresse.
A consequência esperada do trabalho é um aumento no autoconhecimento, análises mais realistas das situações, enfrentamento com muito mais repertório e maiores chances de resolver os problemas. E, claro, autoestima melhor, sensação de segurança aumentada, entre outras vantagens pessoais e emocionais. Não há certeza que isso aconteça, mas será que, ao olhar para as situações com outros pontos de vista, não teremos mais chance de resolver nossos problemas emocionais e viver mais tranquilos?
Futuramente pretendo fazer um post falando sobre a forma de trabalhar da Terapia Cognitivo Comportamental. Por hora, convido todos a comentar, criticar, compartilhar esse texto, a fim de enriquecer a reflexão e tornar melhor ainda a vida de outras pessoas.